sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Espiada

_ Oi ...
_ Oi Caminho.
_ Já não esteve por aqui antes?
_ ...
_  Vai seguir?
_ Não, não ouso.
_ Que vai fazer?
_ Observar quem por você passa...


Do paquiderme



Dizem que para domar um elefante, lhe prendem a uma corrente ainda novinho. Nos seus primeiros meses e anos tentará o elefantezinho seguir livre, mas sempre será puxado pela corrente e fustigado pela vara. Ao passar dos anos conhecerá exatamente sua medida e o alcance de sua liberdade. Já cansado de tantas tentativas sossega o espírito ou, quem sabe, o apazigua. Aprende ainda jovem o que pode  e o que não pode. A verdade é que, a corrente não acompanha o crescimento nem a sua força, mas isso pouco importa, porque não será mais demandada em sua tarefa de contenção, sua presença é simbólica. O Elefante não se arriscará a sofrer a dor da frustração nem ao chicote.

Mas, o que acontece quando já gigante descobrir a fragilidade de sua corrente? Sempre imaginei uma fuga sensacional. Obviamente, nos tempos modernos em que vivemos não faltam exemplos de elefantes descontrolados[?] fugindo pelas ruas. O fato é que os ousados são minoria, e fico pensando se todos os que estão sob as correntes são ignorantes de sua força sobre as mesmas. Talvez já tenham descoberto que o preço a se pagar pela fuga quase sempre é o extermínio. E nesse momento o senso de preservação os controla, pior que os elos nem tão fortes do aço, são aqueles que lhe fizeram subserviente a um estado de coisas.

Tem me ocorrido que, talvez, talvez, o elefante sempre soube que pode livrar-se. E, a despeito do seu iminente risco de morte, quando a ideia, ah... a renitente ideia de liberdade o possui,  já se vê dando os primeiros passos e depois a corrida para longe. Não importa se serão curtos os momentos em que viverá livre, serão certamente melhores que uma vida inteira de negação.

E, se escolhe permanecer como se não o soubesse das fraquezas de sua corrente, lembrará muito tempo depois que sempre foi livre, ainda que ninguém o soubesse. Aposentado e preterido, sem correntes, já sem forças para correr ou ir muito longe, se alegrará o velho paquiderme, com lembranças do que poderia ter sido, por onde teria andado livre?

Das amizades



Definitivamente as melhores coisas da vida, da minha vida, estão direta ou indiretamente ligadas aos anos de faculdade em Mariana/MG.  Eu não sei como seria outra história.
Ah... eu não era dessas que saía com os amigos todos os dias, não vivi inúmeras aventuras, nem tirei milhares de fotos, pouco me lembro de ter ido a algum bar comemorar o que quer que fosse. Mas, isso pouco determinou a efemeridade ou perenidade de minhas relações.

Por pura procrastinação demorei a verificar a etimologia[1] da palavra “Amigo” para confirmar ou refutar as suspeitas. Há um tempo venho tentando escrever sobre amizade –  e, honestamente, eu sei que esse texto não dará conta da empreitada – Não sei quanto a você, mas esse é para mim um dos grandes mistérios dessa vida.  A pois, vamos ao significado : "Amigo" vem do latim "amicus",  e na sua raiz "amo", que significa "gostar de", "amar".

Ah... Então é isso mesmo. A coisa ta pra lá de sentimento, está relacionada mesmo é  com atitudes e posicionamentos. Não há outra razão que justifique a sensação de uma quase euforia quando revejo meus amados. De repente, estou em casa, completa. O desconforto da despedida, por sua vez, é cada vez mais dolorido, mais sentido.

Os anos longe de casa fizeram de meus amigos mais que família, em tudo o que isso implica – em alegrias e desafetos... – Ao fechar os olhos sou capaz de lembrar de diálogos, de boas risadas e ótimas “panaiadas[2]”.

Ao voltar para Belo Horizonte, o contato com muitos deles restringiu-se aos e-mails, orkut e facebook, foram virtualizando-se. Mas, às vezes ganhamos de presente o prazer de viver exatamente o inverso, recentemente aprendi o sentido da palavra desvirtualizar!!!

Os encontros, cada vez mais raros, mostram que, embora a vida dê a cada um o seu curso, ela também mostra que cria elos que desconsideram, distâncias e tempo. São feitos dessa matéria incomum, extraída da alma, e que a gente costuma chamar de amizade.
 



[1] Pesquisa rapidinha, só mesmo para ter certeza do que já sabia. Cf http://pt.wikipedia.org/wiki/Amizade.

[2] Nome que dávamos na república Pocilga ao momento stress de resolver querelas, picuinhas, lavar as roupas sujas...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

À Conta-Gotas

Às vezes eu tenho a sensação de que está tudo revirado e de que a alma parece esvaziar-se à conta-gotas.
Assutam-me sentimentos dos quais não me lembrava que já sentira, muito menos imaginara que sentiria.
Assustam-me as esquinas e os encontros com caminhos que...
De repente algumas certezas já não são assim tão firmes, e o andar fica em falso, como bêbado nas nuvens.
De repente, eu só queria dormir e não sonhar. Sonho é matéria indomável, e quanto mais se tenta mais renitente fica.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Relicários

Espalhou-os sobre a mesa, não eram assim tantos.
Passou o olhar sobre cada um,
sorriso enviesado como quem revê pessoa de muito tempo atrás.
Todos ali, tirou-lhes o pó, contemplou-os mais uma vez.
Demorou-se nele, parecia brilhar mais que outros,
pensou em tocá-lo.
Quem sabe guardar mais junto de si.
Estremeceu-lhe a alma.
Enrolou o pano, guardou-os todos.
Melhor assim.